Gordinhas e gordinhos, amai-vos!

 

 

 

Certa vez fui a um médico que não conhecia para fazer um check-up e também perder uns quilinhos – embora sempre me tenha amado como sou, às vezes tenho de ter atenção a algumas coisas específicas de minha condição de gordinha, como a dor nos joelhos que me atrapalhava muito para fazer uma das coisas de que mais gostava: dançar. Ele me examina e pergunta meu peso, já respondendo: “cento e quantos”? Eu ainda estava bem longe dos três dígitos, então fiquei cabreira, de cara.  Expliquei que sempre me aceitei e me amei tal qual me fez Deus. De verdade, sempre me senti bonita e vaidosa e, à exceção do bullying eterno e cruel dos tempos de escola, aprendi a ser feliz comigo mesma.

Mas o cara disse não acreditar em mim. “Ninguém pode ser feliz sendo gordo. Você tira a roupa e enxerga um corpo bonito?” Fiquei muito surpresa com a pergunta e os comentários que vieram depois sobre minha sexualidade. Quando comentou que duvidava que alguém achasse sexy uma mulher gordinha, fiquei mesmo brava e expliquei pra ele, tintim por tintim, o quanto uma mulher redondinha (ou não) pode ser sexy, desencanada e fazer-se e ao outro feliz, na cama e fora dela. E ainda perguntei a ele se era feliz com aquele narigão, aquele hálito de urubu,a barriga de chope azedo e a cara vermelha de frequentador de casas… por assim dizer…de má reputação.

Lembrei-me do episódio, que aconteceu há muitos anos, dei risadas outra vez mas setembro está chegando e, com ele, além da primavera, retornam os apelos pelos chás milagrosos, academias da moda, dietas e tals, para que a mulherada “prepare o corpo” para o verão. Eu me sinto a cada dia mais confortável com meu corpo e também com o julgamento dos outros, sobre ele. E comemoro sim, as alternativas que hoje existem para nos vestir com mais graça e personalidade – chega de batas estampadas e leggings pretas!

Em uma sociedade pautada pelos padrões, sejam os de beleza ou os de estilo de vida, o existir passou a ser uma tortura para quem não consegue enxergar a manipulação diária deste sistema injusto e doentio, que ora nos engorda com uma nova onda de fast food, ora nos coloca em dietas, ora nos inspira à contemplação, ora à academia… Aí, ó, equipes de criação em tecnologia: nossas crianças estão cada vez mais nos videogames e cada vez menos nas praças e parque. Até porque, infelizmente, esses espaços já não oferecem mais nem segurança, nem ar puro.

O mundo está ficando obeso, alertam as autoridades de saúde. Ah, desculpa falar, mas nós nos fazemos obesos – e não estou dizendo que só é gordo quem quer, como reza um dos mais famosos livros de dietas. Estou dizendo que nos tornamos gordos por uma soma de fatores – dos fastfoods, sim, ao sedentarismo, da solidão em meio à multidão às cobranças estéticas, dos playstations  às relações virtuais…Na questão da saúde, a genética, segundo pesquisas médicas, influencia nosso peso entre 40 a 70% dos casos. A falta de sono, o desequilíbrio hormonal, vários medicamentos, também.

Mas, olhem… A nossa sociabilidade pode ser atingida, às vezes, por essas pressões tantas. Nossa dignidade, jamais! Amem-se!

Ana Ribas Diefenthaeler

Ana Ribas Diefenthaeler

Nasci no ano em que o país saudava a Bossa Nova, que surgia pelas deliciosas harmonias do “Chega de Saudade”, de Tom e Vinícius, cantado pela...

Sala de visitas

Siga-me